domingo, 16 de fevereiro de 2014

Os legumes revoltados do vovô Nestor

Meu avô, Nestor Soares de Macedo era muito engraçado, tinha um humor levemente sarcástico, pelo que me lembro, mas não deixava de ser fantástico para os que com ele conviviam. Ele fazia brinquedos que eram palhacinhos de papelão que montava com ilhós e estes palhacinhos, conforme você puxava um cordão abriam os braços, mexiam as pernas e mostravam a lingua. Meu avô era sapateiro e também fazia cintos em época que você, para ter um, precisava encomendar no sapateiro. Pelo que me lembro ele teve sérios problemas de saúde por causa do cheiro da cola de sapateiro. O que os moleques de rua querem cheirar para dar barato, meu avô cheirava sem querer e sem poder, pois tinha bronquite asmático e ficava muito mal as vêzes. Mas, ele, pelo que me lembro amava muito minha avó e fazia coisas engraçadas para ela rir. Me lembro de um episódio em que ele, para mostrar a revolta dos legumes que não estavam sendo utilizados na geladeira e que estavam murchos, pegou um xuxu, uma batata, uma cenoura, uma beterraba e entalhou algumas formas. O xuxu ficou parecendo um jacaré, dos outros eu não me lembro, mas ficaram todos com alguma carinha engraçada. Os pés ele fez com palitos de fósforo e palitos de dente. Todos os vegetais entalhados seguravam uma plaquinha onde estava escrito: "Não me quis, vou-me embora" ou "tchau, ingratos!" ou algo assim. Depois ele colocou em fila, alguns segurando uma trouxinha, como a sair da geladeira, no chão. Não sei quando ele entalhou, mas lembro-me que, pela manhã, lá estava a fila de vegetais revoltados indo embora. Minha avó riu muito quando viu. Eu, sinceramente pensei que ia sair briga porque afinal era uma forma de dizer que ela não havia utilizado os vegetais. Mas creio que ela não aguentou a palhaçada e começou a rir. Tem muitas outras histórias sobre meu avô que vou contar por aqui. Ele era um velhinho muito querido pelos netos. Sempre que ia em casa, dava um dinheirinho para os netos. Me lembro da época em que um cruzeiro dava para comprar 10 doces. E adivinha o que eu fazia? Comprava 10 doces com o um cruzeiro que meu avô me dava e não dava nenhum pedaço para ninguém. Meu irmão também ganhava e eu não lembro bem, mas acho que ele poupava para comprar outras coisas depois. Mas o meu dinheiro eu comprava tudo de doces. Haviam doces que vinham com brinquedos, era fascinante sentir todos aqueles sabores e ainda ficar com os aviõesinhos de plástico e os soldadinhos que vinham enfiados nos doces. Mas me deixem terminar por aqui a história dos vegetais revoltados do meu avô e até a próxima história.

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